Três estudos
2. O corpo
Água e óleo, o certo e o errado, o joio do trigo. Um dia ainda aprendo a separar veneno e vacina, artérias de veias, cava não é aorta, e a saturação corre num tubo diferente daquele do O2. O embaixo da minha unha, a contração justa da carne. Queria me arranhar de lá de dentro. Desfazer nós e criar o cabelo de uma linha só, me enrolar nele e ficar pendurada na minha própria descoberta. Ninguém precisa olhar. Um dia vou mergulhar na galáxia do meu globo ocular, iris e além porque os olhos, alguém disse, são janela pra um outro lugar. Cada inspiração é viver de novo, e quando expiro morre o que já respirou. Perceba que a sua mão relaxada não fica aberta e nem fechada: caminho pelo mundo nos in betweens. Subtraia o tempo e fica tudo igual, bebês que nascem e minha avó que partiu, uma caixa dentro da outra dentro da outra dentro de, constelações brilhando de estrelas que explodiram há um milhão de anos, a descarga do banheiro, o corpo que sai do banho, as gotinhas sangue que escapam com a pasta de dente quando eu me arrumo pra dormir.
Three studies
2. The body
Arteries from veins, saturation from fresh air. The under my nails, the tightness of flesh. I wish to scratch from the inside. Every pore like a cave. To untie the knots and make the hair into one thread, then wrap myself inside and dissolve, hanging from my own discovery. Fly around the space of an eye globe, iris and beyond for pupils are a tunnel leading inwards (the eyes being the window of the soul). Every breath in is like living anew and every breath out expands in dying. It all comes to an end, ordinary life and death everyday while I watch people walking the streets from my balcony. Like a flush of the toilet, the body coming out of the shower or the drops of blood escaping from my mouth as I brush the teeth before going to bed.
